quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Sempre em Paz



A violência que tumultua os homens e o aturdimento que toma conta dos quadrantes da Terra, dando gênese à loucura que se generaliza, decorre, inicialmente, da agressividade íntima, que se demora no mundo pessoal de cada criatura, produzindo desequilíbrio e infelicidade.
Certamente, a provocação do mal engendra reações inesperadas, sustentando o desespero e conduzindo a estados agressivos, todavia, tal ocorre porque encontra matrizes íntimas no homem que, em si mesmo, vive infeliz.
Por isso, enunciou Jesus: - "Vigiai e orai, a fim de não cairdes em tentação", concitando-nos ao equilíbrio e à perseverança no dever.
Sejam quais forem as circunstâncias em que te sintas envolvido, mantém a tua paz.
Atua com severidade, porém evita a rudeza.
Exerce a disciplina, sem que derrapes na violência.
Promove a educação, não te permitindo a agressividade.
Tudo quanto fizeres, faze-o em paz.
Maltratado ou sofrido, preserva a paz a qualquer preço, de modo a fruíres depois o prazer da serenidade.
Em todas as circunstâncias Jesus manteve-se ameno, em serenidade integral.
Paz é irrestrita confiança em Deus.
Conserva, desse modo, a tua tranqüilidade e coopera em favor do bem geral, não engrossando as fileiras dos reclamadores, dos violentos, dos insensatos.
A tua paz fala pela tua vida, tanto quanto a tua vida se refletirá em volta, conforme a tua conduta em conflito ou em paz.

Joanna de Ângelis
Livro: Viver e Amar - psicografia de Divaldo P. Franco.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Esforço Pessoal


As grandes conquistas da Humanidade têm começo no esforço pessoal de cada um. Disciplinando-se e vencendo-se a si mesmo, o homem consegue agigantar-se, logrando resultados expressivos e valiosos. Estas realizações, no entanto, têm início nele próprio.

E possível que não consigas descobrir novas terras, a fim de te tornares célebre. Todavia, poderás desvelar-te interiormente para o bem, fazendo-te elemento precioso no contexto social onde vives.

Certamente, não lograrás solucionar o problema da fome na Terra. Não obstante, poderás atender a algum esfaimado que defrontes, auxiliando a diminuir o problema geral.

Não terás como evitar os fenômenos sísmicos desastrosos que, periodicamente, abalam o planeta. Assim mesmo, dispões de recursos para que a onda de acidentes morais não dizime vidas preciosas ao teu lado. De fato, não terás como impedir as enfermidades que ceifam as multidões que lhes tombam, inermes, ao contágio avassalador. Apesar disso, tens condições de oferecer as terapias preventivas do otimismo, da coragem e da esperança.

Diante das ameaças de guerra, das lutas e do terrorismo existentes que matam e mutilam milhões de homens, te sentes sem recursos para fazê-los cessar, mudando-lhes o rumo para a paz. Entretanto, a tua conduta pacífica e os teus esforços de amor serão instrumentos para gerar alegria e tranqüilidade onde estejas e entre aqueles com os quais compartes as tuas horas.

A violência urbana e a criminalidade reinantes não serão detidas ao preço dos teus mais sinceros desejos e tentativas honestas. Sem embargo, a tarefa de educação que desempenhes, modesta que seja, influenciará alguém em desalinho, evitando-lhe a queda no abismo da agressividade.

As sucessivas ondas de alienação mental e suicídios, que aparvalham a sociedade, não cessarão de imediato sob a ação da tua vontade. Muito embora, a tua paciência e bondade, a tua palavra de fé e de luz, conseguirão apaziguar aquele que as receba, oferecendo-lhe reajuste e renovação. Naturalmente, o teu empenho máximo não alterará o rumo das Leis de gravitação universal. Mas, se o desejares, contribuirás para o teu e o equilíbrio do teu próximo, em torno do Sol de Primeira Grandeza que é Jesus.

Os problemas globais merecem respeito. Mas, os individuais, que se somam, produzindo volume, são factíveis de solução.

A inundação resulta da gota de água. A avalanche se dá ante o deslocamento de pequenas partículas que se desarticulam.

A epidemia surge num vírus que venceu a imunização orgânica. Desta forma, faze a tua parte, mínima que seja, e o mundo melhorar-se-á. A sociedade, qual ocorre com o indivíduo. é o resultado de si mesma. Reajustando-se o homem, melhora-se a comunidade. E, partindo do teu empenho pessoal, para ser mais feliz, ampliando a área de bem-estar para outros, o mundo se fará mais ditoso e o mal baterá em retirada.
Joanna de Ângelis & Divaldo P. Franco
Livro: Momentos de Coragem

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Receita Contra o Egoísmo



Procure esquecer o lado escuro da personalidade do próximo.

Aprenda a ouvir com calma os longos apontamentos do seu irmão, sem o impulso de interromper-lhe a palavra.

Olvide a ilusão de que seus parentes são as melhores pessoas do mundo e de que a sua casa deve merecer privilégios especiais.

Não dispute a paternidade das idéias proveitosas, ainda mesmo que hajam atravessado o seu pensamento, de vez que a autoria de todos os serviços de elevação pertencem, em seus alicerces, a Jesus, nosso Mestre e Senhor.

Não cultive referências à sua própria pessoa, para que a vaidade não faça ninho em seu coração.

Escute com serenidade e silêncio as observações ásperas ou amargas dos seus superiores hierárquicos e auxilie, com calma e bondade, aos companheiros ou subalternos, quando estiverem tocados pela nuvem da perturbação.

Receba com carinho as pessoas neurastênicas ou desarvoradas, vacinando o seu fígado e a sua cabeça contra a intemperança mental.Abandone a toda espécie de crítica, compreendendo que você poderia estar no banco da reprovação.

Habitue-se a respeitar as criaturas que adotem pontos de vista diferentes dos seus e que elegeram um gênero de felicidade diversa da sua, para viverem na Terra com o necessário equilíbrio.

Honre a caridade em sua própria casa, ajudando, em primeiro lugar, aos seus próprios familiares, através do rigoroso desempenho de suas obrigações, para que você esteja realmente habilitado a servir ao Mundo e à Humanidade, hoje e sempre.

André Luiz(Do livro “Marcas do Caminho”, Francisco Cândido Xavier)

domingo, 13 de setembro de 2009

Suicídio vai crescer 50% nos próximos onze anos, diz OMS


Para entidade, educação sobre o tema é a melhor forma de prevenção.Famílias devem discutir o assunto com pessoas que apresentam risco.

Emilio Sant'Anna Do G1, em São Paulo

Cerca de um milhão de pessoas cometem suicídio todos os anos no mundo. Por dia, uma em cada vinte tentativas é consumada. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS) e Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP, na sigla em inglês) que apontam para um cenário ainda pior para os próximos anos. De acordo com as entidades, o problema deve crescer 50% e atingir a marca de 1,5 milhão de casos em 2020.

Nesta quinta-feira (10), quando é lembrado o dia internacional para prevenção do suicídio, as entidades advertem que a educação sobre o tema é a melhor forma de prevenção. De acordo com o psiquiatra e professor do curso de atualização em Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Geraldo Possendoro, os grupos mais expostos são o dos pacientes psiquiátricos, como esquizofrênicos e depressivos.

Fatores como a idade, estado civil e uso de drogas também contribuem para o aumento do risco. “Pessoas mais idosas, separadas e que fazem uso de drogas de abuso, como o álcool, cometem mais suicídio”, explica o médico.

Não só os mais idosos, porém, estão expostos. De acordo com a OMS, a taxa de suicídio entre os jovens vem subindo a ponto de essa população ser considerada como a de maior risco em um terço dos países.

Possendoro afirma que, ao contrário do senso comum, conversar sobre o assunto é a melhor forma de proteger as pessoas.

Quando família percebe que um indivíduo, com fatores de risco, começa a desqualificar suas atividades rotineiras e ter um discurso de desesperança recorrente ele pode ser abordada. “Conversar sobre isso não vai fazer o indivíduo tentar, pelo contrário pode fazer com que ele se abra e procure ajuda”, diz o psiquiatra.



sexta-feira, 24 de julho de 2009

O fim do bate-boca


A boa comunicação entre as pessoas é a arma mais eficaz para disseminar a paz. É o que diz o psicólogo Marshall Rosenberg, porta-voz mundial da comunicação não-violenta.

por Marcia Bindo


Lembra a última vez que você discutiu com alguém, levantou a voz e saiu praguejando sem chegar a um entendimento? Pois saiba que guerras entre nações, brigas familiares, arranca-rabos no trabalho e a maior parte dos conflitos em todo o mundo (incluindo essa sua discussão) têm algo em comum: poderiam ser evitadas apenas com... palavras. Essa é a teoria defendida pelo psicólogo americano Marshall B. Rosenberg, que desde a década de 1960 se dedica a promover o diálogo pacífico mundo afora. Segundo ele, é na maneira como falamos e ouvimos os outros que está a chave para o problema das desavenças e discórdias. Marshall fundou em 1984, na Califórnia, o Centro de Comunicação Não-Violenta (Center for Nonviolent Communication) e tem grupos de pesquisa em mais de 50 países, incluindo o Brasil. Viaja constantemente para mediar conflitos e levar programas de paz a regiões assoladas por guerras, como Sérvia e Croácia. Aqui ele conta a estratégia para apaziguar os combates verbais do nosso dia-a-dia.

Como você começou a se interessar pelo assunto?
Cresci em Detroit, uma das cidades mais violentas dos Estados Unidos. O tempo inteiro havia brigas de rua entre as comunidades brancas e negras, inflamadas pelo preconceito. Quando isso acontecia, me escondia no porão. Até que decidi fazer algo a respeito – queria entender por que agimos de maneira violenta quando não nos entendemos. Comecei a estudar algumas maneiras de ajudar a contribuir para o bem-estar de todos. A comunicação não-violenta foi o resultado de minha especialização em psicologia social.

Quando acontece, então, a falta de comunicação?
Quando não há troca. Geralmente estamos tão preocupados com nosso ponto de vista que não escutamos o que os outros estão dizendo. Ou pior: quando julgamos aqueles que não agem de acordo com o que acreditamos ser correto. Se você quer viver no inferno, é só pensar no que há de errado com as pessoas que fazem coisas de que você não gosta. Se quer piorar um pouco mais, diga a eles o que você acha que está errado. Essa maneira cricri de se comunicar só gera raiva, medo, culpa.

O que podemos fazer para evitar tantos atritos?
Quando jovem, aprendi a me comunicar de maneira impessoal, que não exigia revelar o que se passava dentro de mim. Quando encontrava pessoas com comportamentos de que não gostava ou que não compreendia, reagia considerando que fossem errados. Aí ocorreu o clique. Entendi que a grande falha da comunicação está justamente em apontar problemas nos outros – em vez de olhar o que eles causam em nós. A comunicação começa quando expressamos nossos sentimentos. Não fazemos isso porque achamos que ficamos vulneráveis. Mas só assim criamos um relacionamento baseado na sinceridade. A partir do momento que as pessoas falam o que precisam, em vez de falarem o que está errado com os outros, o entendimento aumenta.

E como isso acontece quando há um assunto que gera discórdia?
O primeiro passo é reformular a maneira como falamos e ouvimos o outro. A idéia é treinar sempre a se expressar com honestidade e clareza, ao mesmo tempo que damos aos outros uma atenção respeitosa. Mas temos a síndrome do disco riscado: repetimos reações, julgando os outros. Existe um treino que ensinamos a todos que buscam se comunicar de maneira pacífica – do chefe de Estado à professora, do marido ao presidiário.

Como é esse treino?
Primeiro você observa um determinado acontecimento que afeta seu bem-estar, evitando julgamentos. Em seguida, identifica como você se sente ao observar aquela ação: se ficou magoado, assustado, alegre etc. Então reconhece quais são suas necessidades que não estão sendo supridas. A partir dessa reflexão é possível se comunicar com a pessoa ligada à ação, para resolver o conflito.

Você tem um exemplo?
Vamos supor que uma mãe vai falar com o filho adolescente que deixou a sala uma bagunça. Um jeito não-violento de se expressar poderia ser o seguinte: "Roberto, quando vejo bolas de meia sujas na sala, fico irritada porque preciso de mais ordem no espaço que usamos em comum. Você poderia colocar as meias no seu quarto ou na lavadora?" Veja bem, a mãe poderia reagir de diversas maneiras: bufar, punir o filho. Mas quando pratica a comunicação não-violenta ela deixa claro o que observa, como se sente, qual necessidade não está sendo atendida. Pode ter certeza de que a chance de ser compreendida é maior.

Falando assim parece fácil, mas na prática...
Esses passos na verdade funcionam para termos mais consciência antes de agir de maneira reativa e impensada. Experimente respirar fundo e dar um tempo antes de começar a falar em uma situação que está prestes a entrar em ebulição. Parece papo pra boi dormir, mas funciona! Assim você consegue elaborar o que o está incomodando.

Mas e quando a outra pessoa nos ataca verbalmente?
Da mesma maneira que é possível mudar o jeito de se expressar, também dá para escutar os outros de um jeito diferente. Todo tipo de crítica, ataque, insulto e julgamento desaparece quando concentramos a atenção em ouvir os sentimentos e necessidades por trás da mensagem. Quanto mais praticamos isso, mais percebemos que por trás de todas essas mensagens que nos intimidam estão simples indivíduos com necessidades insatisfeitas pedindo que contribuamos para seu bem-estar.

Como é o trabalho no Brasil?
Tenho uma equipe de pessoas habilitadas que trabalham para mediar conflitos em presídios, em morros do Rio de Janeiro, em empresas e até em ambientes familiares. A rede de comunicação não-violenta no Brasil é sustentada por doações. Educadores também realizam oficinas para qualquer pessoa que tenha interesse em aplicar esse aprendizado no cotidiano. O foco é sempre inspirar a compaixão – por isso foi carinhosamente apelidada de linguagem do coração.

Para saber mais:
Livros:• Comunicação Não-violenta – Técnicas para Aprimorar Relacionamentos Pessoais e Profissionais, arshall Rosenberg, Ágora

Veja mais:
Acesse www.cnvbrasil.org para saber mais sobre a entidade no Brasil e o www.cnvc.org para conhecer o Centro para Comunicação Não-Violenta, da Califórnia.
Fonte: revista VIDA SIMPLES, nº. 51, março de 2007.
(http://vidasimples.abril.com.br/sumario.shtml?edicao=51)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Reflexão...


Dizer sim quando quero dizer não é dar mais valor aos outros do que a mim,

é não colocar meus limites, e isso é não me respeitar..

É o mesmo que dizer que o que eu sinto não vale nada,

que os outros podem passar por cima de mim à vontade.

E eles passam, sem dó nem piedade.

Hoje estou aprendendo a dizer não.

Quando não quero alguma coisa, simplesmente digo não.

Sem raiva nem emoção.

Um não é só uma negativa. É nosso limite.

Um direito que temos de decidir o que desejamos ou não fazer.

A isso se dá o nome de dignidade.

Quando nos colocamos com sinceridade,

dizendo o que sentimos, somos respeitados...

Zíbia Gasparetto

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Generosidade para todos


Não é preciso ser Gandhi ou Madre Teresa para fazer o bem aos outros. As pequenas doações do dia a dia contam, e muito, para ajudar o próximo e fazer deste planeta um lugar melhor

texto Jeanne Callegari

O dia 22 de abril de 2009 tinha tudo para ser mais uma jornada comum na vida de Santiago Gori, taxista argentino de 49 anos. Por volta das 21h, ele pegou uma corrida de quatro quarteirões e deixou um casal de aposentados em seu destino, na cidade de La Plata, a 60 km de Buenos Aires. “Mais uma corrida ruim”, pensou ele. Em seguida, pegou outra passageira, que o avisou que havia uma mala no banco de trás. Após deixála em seu destino, Santiago abriu a maleta e viu um monte de dinheiro – mais precisamente, 130 mil pesos, o equivalente a 72 mil reais. “Mas isso não é meu”, disse. Seu próximo passo foi devolver a pequena fortuna aos verdadeiros donos, o casal que ele tinha transportado antes. Sensibilizados pela história de Santiago, que recebeu dos donos da mala, em retribuição, apenas um singelo “você é um santo”, dois publicitários criaram uma campanha para arrecadar para o taxista a mesma quantia devolvida por ele. A iniciativa foi um sucesso e Santiago, o taxista generoso, levou o equivalente a 130 mil pesos.

Todos temos algo para dar. Pode ser carinho, um gesto e até informaçãoSantiago não é um homem rico, como Bill Gates. Não fundou, como o empresário, uma associação milionária para patrocinar avanços em saúde e educação. Também não é, como Madre Teresa ou Gandhi, um líder religioso, que dedica sua vida a cuidar dos desfavorecidos. Santiago é um homem comum, humilde, que teve uma oportunidade de fazer a coisa certa e a aproveitou. Em tempos de crise mundial, em que todos se preocupam com o futuro de suas finanças, ele poderia ter ficado com o dinheiro; poderia têlo usado para pagar o que faltava da licença de seu táxi, ou para comprar coisas bonitas para sua esposa ou seus filhos. Mas ele foi direto até os donos entregar o que tinham perdido

A história de Santiago prova que não é necessário ter uma fortuna, índole de santo ou algum poder para fazer o bem. Também não é preciso esperar grandes tragédias se abaterem sobre a população, como as enchentes de Santa Catarina e o furacão Katrina. Oportunidades para praticar a generosidade aparecem para todos nós, todo dia. Muitas vezes as desperdiçamos, por achar que temos quase nada a oferecer. Valorizamos e exaltamos a generosidade, mas achamos que ela é para poucos, para aquelas pessoas iluminadas que nasceram para fazer o bem. Nada poderia ser mais equivocado. Como disse o filósofo e político irlandês Edmund Burke, “ninguém comete erro maior que não fazer nada porque só pode fazer um pouco”.

Nobreza de almaTodos temos algo para dar. Pode ser dinheiro ou bens materiais, as associações mais comuns quando pensamos em generosidade. Mas também pode ser conhecimento, coisas que nós sabemos e que podem ajudar os outros. Pode ser um abraço, uma palavra de conforto, um carinho. Afinal, a generosidade é, antes de mais nada, uma inclinação do espírito para fazer o bem. A palavra vem do latim “generositas”, que significa “de origem nobre”. Com o tempo, passou a significar a nobreza não de nascimento, mas de espírito.

É esse espírito nobre, generoso, que encontramos em pessoas como dona Conchetta Viola. Aos 87 anos, ela é conhecida em sua vizinhança, no Rio de Janeiro, como uma pessoa de coração grande, que ajuda a quem precisa. Seja fazendo um bolo para um vizinho, seja fazendo um mapa astral de graça, enquanto outros astrólogos cobram os olhos da cara pela leitura. “Tenho boa vontade”, diz ela, quando pergunto sobre generosidade. Se alguém pede um favor, seja uma receita ou um bordado, dona Conchetta ajuda. Sempre sem cobrar nada. “Não tenho jeito de cobrar, o que vou fazer?”, diz ela, rindo. “Aprendi com mamãe desde cedo a não fazer nada por interesse.” Com a saúde frágil, tendo passado por algumas cirurgias, dona Conchetta diz que até precisaria de uma pensão melhor. Mas não se sente frustrada por ter ajudado a vida toda sem cobrar. “As pessoas me querem bem, tenho muitas amizades, meus filhos são muito carinhosos. A vida me retribuiu”, diz.

Nos dias de hoje, parece cada vez mais difícil encontrar pessoas como dona Conchetta, capazes de se dedicar aos outros sem esperar recompensa. Mas, apesar de ter se tornado artigo raro, a generosidade foi responsável pela sobrevivência do ser humano como espécie. Lá nos primórdios, quando o homem ainda morava nas cavernas e caçava para sobreviver, era essencial que o grupo se mantivesse unido. Quem dava sorte na caçada distribuía carne para quem não tinha conseguido nada. Mais para a frente, a situação se invertia e quem tinha sido ajudado da primeira vez retribuía o favor, e assim ninguém passava fome. Os espertinhos que só queriam saber de aproveitar da caça dos outros, sem retribuir, eram logo excluídos do grupo. Esse comportamento é conhecido na sociobiologia como “altruísmo recíproco” e foi descrito pelo pesquisador americano Robert Trivers nos anos 70.

Nesse ponto, é bom fazer uma distinção entre altruísmo e generosidade. Segundo o filósofo e educador Mario Sergio Cortella, as duas virtudes são boas, mas diferentes. Agir esperando alguma espécie de retribuição seria altruísmo, representado no lema “faça aos outros o que querem que façam contigo”. A generosidade seria a prática desinteressada, feita mesmo quando se sabe que não haverá recompensa, cujo mote é “faça o bem porque é bom fazer” Essa separação é útil do ponto de vista filosófico. Na prática, porém, de pouco serve. É desnecessário ficar pensando em quais foram suas motivações para ajudar o próximo. Ninguém precisa ficar se gabando porque doou dinheiro para uma entidade beneficente. Mas não é pecado se sentir bem depois de uma boa ação. Esse pensamento de que é errado sentir prazer ao doar serve para nos distanciar ainda mais da prática da generosidade. Sob esse ponto de vista, enquanto não tivermos razões 100% sinceras e desinteressadas para ajudar alguém, não vale a pena fazê-lo. E nossas razões nunca serão 100% puras, sinceras e desinteressadas, afinal, fazer o bem faz bem.
Virtude celebradaConsiderado o pai da filosofia e da matemática modernas, o pensador francês René Descartes também deu seus pitacos sobre a generosidade. Dela, dizia que é a consciência de ser livre e fazer bom uso dessa liberdade, ou seja, agir de forma virtuosa. Para ele, saber-se senhor dessa liberdade, e usá-la para ajudar os outros, fazia um bem danado para a pessoa, produzindo auto-estima. “E é por gostar de si próprio que o generoso passa a estimar também o outro, reconhecendo nele o mesmo potencial para a virtude”, diz o filósofo Jorge Quintas, que escreveu um trabalho acadêmico sobre a generosidade em Descartes. Um dos grandes psicanalistas da história, Donald Winnicott, foi ainda mais longe, afirmando que não conseguir doar pode fazer mal para a pessoa. Sem essa capacidade de se preocupar com o outro, ficamos desequilibrados, perdemos o sentido de viver.

“Clarice Lispector já disse: ‘Todos querem a liberdade, mas quem por ela trabalha?’”, diz o cientista político Leonardo Sakamoto, fundador da ONG Repórter Brasil, que defende os direitos humanos. A organização ajudou a libertar trabalhadores da escravidão, denunciou a prostituição infantil e abusos cometidos contra comunidades ribeirinhas, entre outras atividades. Leonardo, que também dá aulas praticamente de graça para membros da comunidade e alunos da USP, nunca ganhou por seu trabalho na ONG. Atualmente, vive da bolsa concedida pela Ashoca, entidade que financia empreendedores sociais do mundo todo. “Levo uma vida modesta. Não estou aqui para ter o carro do ano. Nada contra quem tem, só que eu optei por uma vida menos confortável, mas que me realiza plenamente”, diz ele.

Porém, a generosidade é uma virtude mais celebrada que praticada. “A generosidade só brilha, na maioria das vezes, por sua ausência”, escreveu o filósofo francês Comte- Sponville no livro Pequeno Tratado das Grandes Virtudes.

Se a generosidade se tornou artigo raro, um pouco da culpa é da sociedade atual, calcada em valores como egoísmo e individualismo. “Pensamos muito em nosso próprio umbigo e pouco no dos outros”, diz Mario Sergio Cortella. Para ele, isso é ainda mais forte nas classes mais altas. “Na favela, se desaba um barraco, a vizinha acolhe os filhos da que perdeu a casa, dizendo ‘onde comem dez comem 15’. Na classe média, às vezes as pessoas nem sabem o que fazer com os pais idosos”, diz. Isso acontece porque, nas favelas, ainda impera o espírito de cooperação que guiou nossos antepassados na época das cavernas. Sem a ajuda do vizinho, não se sobrevive.

“Eu diria que o termo correto é disponível”, afirma a geógrafa paulistana Flora Medeiros Lahuerta, de 26 anos. Ela é aquela pessoa a quem todos recorrem em momentos de necessidade. Seja para desabafar as desilusões amorosas, seja para dar carona ou revisar um texto acadêmico. Certa vez, uma amiga saiu do Rio de Janeiro sem roupas apropriadas para enfrentar o frio cortante que fazia em São Paulo. Do meio da estrada, ligou para Flora, que saiu de uma festa para buscá-la na rodoviária, casaquinho e cachecol na mão. O grande desafio de Flora, agora, é calibrar melhor o tempo que dedica aos outros. Afinal, de tanto querer agradar a todos, acaba se atrapalhando e assumindo tarefas que não conseguirá cumprir. “Para mim não é um esforço ajudar”, diz. “Sinto satisfação ao ver que contribuí para que algo desse certo.”


Educar para dividir
Um dos mecanismos que a sociedade sempre teve para educar para o bem foram as religiões. Como sempre foram preocupadas com a moral, as crenças em um poder superior costumam estimular virtudes como a generosidade, a solidariedade, a compaixão. “Ninguém nasce generoso”, diz o reverendo Alderi Sousa de Matos, professor de História da Igreja do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, da Universidade Mackenzie. “É preciso aprender.” No cristianismo, por exemplo, costumam- se contar as histórias de Cristo como inspiração para os fiéis. Uma das mais conhecidas é a do milagre da multiplicação de pães e peixes. “O que Cristo fez foi juntar o pouquinho que cada um tinha e repartir entre todos”, diz Cortella. Aí está a diferença entre dividir e repartir. “Quando se divide um bolo entre dez pessoas, cada uma fica com um pedaço. Quando se reparte o bolo, cada uma fica com o que precisa”, exemplifica. Para o budismo, exercitar todos os dias virtudes como a generosidade é uma forma de combater os vícios, como o egoísmo.

Como as religiões forçam o indivíduo a olhar para fora de seu próprio mundo, são uma forma de se educar para a generosidade. Mas não são as únicas. Existem práticas que podem ser feitas nas escolas, por exemplo, para estimular as crianças a ser solidárias. Um exemplo são os lanches compartilhados, em que cada aluno leva o seu e todos repartem. Existem também os jogos cooperativos, em que ninguém perde: em vez de competir, todos cooperam para a vitória do grupo.


Estar disponível para o outro demanda uma nova atitude desinteressada
A internet pode estar forjando uma geração mais livre, aberta e generosa

Substituto do amor
“Em uma sociedade que pede apenas que você receba, nunca doe, a generosidade é um treino”, diz a terapeuta existencial e professora da PUCSP Dulce Critelli. Para ela, o primeiro passo para a generosidade é sacar se somos, individualmente, capazes de oferecer. “O desafio é estar atento às necessidades da vida em comum, não só às nossas.” Para poder ajudar o outro, o primeiro passo é enxergá-lo, ouvi-lo, perceber suas necessidades.

Uma vez que percebemos, é hora de partir a ação. Porque ser generoso é, antes de tudo, uma escolha. É diferente, por exemplo, do amor. Quando amamos, seja um filho, seja um companheiro ou um amigo, somos capazes de grandes sacrifícios. Sem nem pensar duas vezes, uma mãe passa a noite na cabeceira do filho doente. Mas, se a criança em questão não for nosso filho, não somos capazes do mesmo gesto. Comte-Sponville pergunta: se o mendigo na rua fosse alguém que amamos, recusaríamos a ajuda que ele pede? A generosidade existe, então, como substituto do amor, para os casos em que não sentimos amor – afinal, não escolhemos senti-lo. Precisamos aprender a compartilhar com desconhecidos como fazemos com as pessoas que amamos.

Foi o que ocorreu com Sabrina Rondon Gahyva, de 24 anos, ao decidir fazer trabalho voluntário em Angola, em 2008. Jornalista, fazia trabalho parecido na periferia de Cuiabá (MT), onde mora, mas seu sonho era trabalhar com crianças carentes na África. Na internet, descobriu a ONG ADPP, com projetos no continente, e se inscreveu. Após seis meses de treinamento nos Estados Unidos, foi para Angola, onde passou nove meses. A cidade para onde iria dar aula para crianças, Cabinda, era palco de um confl ito armado, então seus planos mudaram: foi para Benguela, onde lecionou geopolítica em um curso de formação para professores da área rural. Também atuou em projetos de prevenção do HIV e em estudos sobre a inserção das mulheres no sistema educacional angolano. “Penso que o planeta é uma família só, uma corrente mesmo. E estamos aqui para trocar.” Assim como os outros personagens desta reportagem, Sabrina hesita em usar o termo generosidade para falar de sua experiência. “Nisso tudo, quem mais ganhou fui eu.”


Responsabilidade social
Sabrina encontrou a ONG que viabilizaria sua ida para Angola ao navegar na internet. Pois a web é uma das ferramentas que mais podem ajudar a prática da generosidade. À primeira vista, parece que as novas tecnologias contribuem para o isolamento das pessoas. No ônibus, por exemplo, é cada um no seu canto, com seu iPod, sem conversar com o vizinho. Aqui, porém, estamos falando de outra coisa: da natureza colaborativa da rede e da cultura de participação que ela cria.

Só na internet é possível um fenômeno como a Wikipédia, em que colaboradores anônimos atualizam verbetes sobre quase qualquer assunto, tornando o site uma enorme enciclopédia global. Quando cada um faz um pouco e colabora com o que sabe, todos ganham. Assim é também com os softwares livres. São programas que poderiam custar milhões, mas foram criados por programadores que os distribuem de graça porque acreditam que a informação deve circular livremente. Uma geração acostumada a compartilhar tudo tende a ser mais generosa. “A internet maximizou os incentivos sociais que se recebe ao fazer um trabalho”, diz o advogado Ronaldo Lemos, diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas e diretor do Creative Commons no Brasil. “Nessa nova visão, não importa a gratificação econômica, mas a reputação entre os pares, a capacidade de estabelecer ligações com outras pessoas, muitas delas desconhecidas.”

Seja por meio da colaboração digital, seja pelas formas tradicionais de doação, o fato é que o mundo nunca precisou tanto de generosidade como nos dias de hoje. Não só com amigos, colegas, desconhecidos, mas com o próprio planeta. “Fazer o bem, hoje, é abrir mão do conforto e deixar o carro em casa de vez em quando, economizar água, reduzir o consumo”, diz Dulce Critelli. Nesse sentido, a generosidade se confunde, hoje, com a responsabilidade social. “Se não aprendermos a fazer isso mais rápido do que estamos fazendo, o tecido social vai se esfacelar”, diz Cortella. É preciso ser generoso com o planeta, assim como ele é conosco.

quarta-feira, 1 de julho de 2009


Não tente adivinhar o que as pessoas pensam a seu respeito.
Faça a sua parte, se doe sem medo.
O que importa mesmo é o que você é.
Mesmo que outras pessoas não se importem.
Atitudes simples podem melhorar sua vida.
Não julgue para não ser julgado...
Um covarde é incapaz de demonstrar amor - isso é privilégio dos corajosos.
Mahatma Gandhi

quinta-feira, 25 de junho de 2009

À FRENTE DO DESESPERO...


Dias há nos quais tens a impressão de que mesmo a luz do sol parece débil, sem que consiga fulgir nos panoramas do teu caminho. Tudo são inquietações e ansiedades que pareciam vencidas e que retornam como fantasmas ameaçadoras, gerando clima de sofrimento interior.


Nessas ocasiões, tudo corre mal. Acontecem insucessos imprevistos e contrariedades surgem de muitas nonadas que se amontoam, transformando-se em óbice cruel de difícil transposição.


Surgem aflições em família que navegava em águas de paz, repontam problemas de conjuntura grave em amigos que te buscam socorros imediatos e, como se não bastassem, a enfermidade chega e se assenhoreia da frágil esperança que, então, se faz fugidia.


Nessa roda-viva, gritas interiormente por paz e sentes indescritível necessidade de repouso. A morte se te afigura uma bênção capaz de liberar-te de tantas dores!...


Refaze, porém, a observação.


Tudo são testemunhos necessários à fortaleza espiritual, indispensável à fixação dos valores transcendentes.


Não fora isso, porém, todas essas abençoadas oportunidades de resgate, e a vida calma amolentaria o teu caráter, conspirando contra a paz porvindoura, por adiar o instante em que ela se instalaria no teu imo.


Quando tudo corre bem em volta de nós e de referência a nós, não nos dói a dor alheia nem nos aflige a aflição do próximo. Perdemos a percepção para as coisas sutis da vida espiritual, a mais importante, e desse modo nos desviamos da rota redentora.


Não te agastes, pois, com os acontecimentos afligentes que independem de ti.A família segue adiante, a amor muda de domicílio, a doença desaparece, a contrariedade se dilui, a agressão desiste, a inquietude se acalma se souberes permanecer sereno ante toda dor que te chegue, enquanto no círculo de fé sublimas aspirações e retificas conceitos.


Continua fiel no posto, operário anônimo do bem de todos, e espera.


Os ingratos que se acreditaram capazes de te esquecer lembrar-se-ão e possivelmente volverão: os amigos que te deixaram, os amores que te não corresponderam, aqueles que te não quiseram compreender, quantos zombaram da tua fraqueza e ridicularizaram tua dor envolta nos tecidos da humildade, os que investiram contra os teu anelos voltarão, tornarão sim, pois ninguém atinge a plenitude da montanha sem a vitória pelo vale que necessita vencido.


Tem calma! Silencia a revolta!


Refugia-te na palavra clarificadora do Evangelho consolador e enxuga tuas lágrimas com as suas lições. Dos seus textos extrai o licor da vitalidade e tece com as mãos da esperança a grinalda de paz para o coração lanhado e sofrido. Se conseguires afogar todas as penas na oração de refazimento, sairás do colóquio da prece restaurado, e descobrirás que, apesar de tudo acontecer em dias que tais, Jesus luze intimamente nas províncias do teu espírito. Poderás, então, confiar e seguir firme, certo da perene vitória do amor.


Joanna de Ângelis - Psicografado por Divaldo P. Franco

Livro: Lampadário Espírita


DICA DE FILME: Conversando com Deus (título original em inglês: Conversations with God) é um filme norte-americano lançado em 2006 sobre a vida do escritor espiritualista Neale Donald Walsch e sua série de livros onde relata diálogos que teria tido com Deus. O filme foi dirigido e produzido por Stephen Simon e Walsch foi interpretado por Henry Czerny. É uma jornada emocional e espiritual que todos deveriam experimentar...

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Mato Grosso do Sul registra suicídio de um índio a cada dez dias

Uma situação lastimável, que exige uma política de valorização dos índios por parte dos governantes e da sociedade como um todo.


Mato Grosso do Sul registra suicídio de um índio a cada dez dias

Cleide Carvalho, O Globo

SÃO PAULO - Seis índios guarani-kaiowá se suicidaram só este ano no Mato Grosso do Sul, elevando para 40 o número de suicídios de integrantes da etnia no estado, entre janeiro de 2008 e fevereiro deste ano, registrados pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Outros 45 foram assassinados no período, três deles este ano. O número de suicídios é alarmante: uma morte a cada 10 dias. O último caso foi o de um jovem de 19 anos, que se enforcou em fevereiro dentro da Usina Quebra-Coco, no município de Sidrolândia, a 90 km de Campo Grande. P.G, achado morto pelo sogro, é um dos 18 jovens da aldeia, com até 20 anos de idade, que tiraram a própria vida de janeiro de 2008 para cá.


- A gente não foi preparado para enfrentar essa pressão - diz Anastácio Peralta, integrante da etnia e líder índigena.


A população de índios no Mato Grosso do Sul é a segunda maior do país, atrás apenas do Amazonas. Cerca de 70 mil índios vivem no estado, dos quais 40 mil são guarani-kaiowá. A maior parte dos suicídios - e dos assassinatos - ocorre na aldeia Bororó, em Dourados, a 225 km de Campo Grande, onde cerca de 13 mil índios vivem confinados num espaço de 3.500 hectares, sem condições de plantio. Com pouco espaço e a mistura de famílias numerosas que antes viviam em outras áreas do estado, a aldeia se assemelha a um caldeirão prestes a explodir.


A situação dos índios em Mato Grosso do Sul foi classificada como a mais trágica e preocupante do país em documento divulgado neste fim de semana pela 47ª Assembléia da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Segundo o documento, 213 casos de demarcação de terras indígenas no país, de um total de 846 catalogadas pelo Cimi, sequer tiveram iniciados os processos legais de tramitação. "Se não forem tomadas medidas imediatas, mais um genocídio chegará a se consumar em pleno século XXI", diz o documento sobre a situação dos guarani-kaiowá.


- Os suicídios são consequência do desespero. Os índios estão confinados num espaço pequeno, onde não conseguem sobreviver. É preciso que as autoridades parem de empurrar com a barriga as discussões em torno do assunto, inclusive a aprovação do Estatuto do Índio - diz Erwin Kräutler, presidente do Cimi e bispo do Xingu.


Na semana passada, uma índia de apenas 13 anos de idade, grávida de seis meses, foi resgatada de um cativeiro onde era mantida por dois índios, um deles de 70 anos. Não se sabe ainda quem engravidou a menina. O índio Anastácio Peralta diz que a aldeia já não abriga apenas índios guarani-kaiowá ou terenas, agrupados todos num único espaço, mas homens que vivem na região e acabam se casando com as jovens das tribos.


Egon Heck, coordenador do Cimi em Dourados, conta que o alcoolismo e a violência são crescentes, decorrentes da falta de perspectivas do povo guarani-kaiowá.


- Em agosto passado, a Funai designou uma equipe para percorrer e identificar as áreas que pertencem aos índios e estão ocupadas por grandes fazendas produtoras de soja e cana-de-açúcar, mas ela enfrenta a resistência dos empresários, que recorrem à Justiça para impedir a entrada dos integrantes da comissão - diz Heck.


No total, cerca de 30 mil hectares do estado são áreas ocupadas por índios, mas a disputa por terras é diária.


Segundo dados do governo do estado do Mato Grosso do Sul, atualmente 14 usinas de açúcar e álcool estão operando. Até 2015, serão mais 28 unidades industriais em funcionamento. Uma das últimas a receber incentivos do governo do estado, a Usina Terra Verde Bioenergia, de Nova Andradina, anunciou produção plena em 2011 e capacidade para moagem 3,5 milhões de toneladas de cana ao ano.


Assim como o jovem P.G, centenas de índios têm se submetido a trabalhar nas usinas de cana-de-açúcar para sobreviver. A situação, porém, repete até hoje o estigma dos índios no descobrimento do Brasil:
- Os fazendeiros acusam a gente de preguiçoso, dizem que a gente não sabe trabalhar igual a eles. Dizem que a gente atrapalha o progresso. A gente trabalha para sobreviver. Na aldeia, planta mandioca e milho, mas falta espaço - explica Peralta.


De acordo com Heck, no município de Antonio João, na fronteira com o Paraguai, as terras indígenas já demarcadas somam 9.300 hectares. No entanto, cerca de 700 índios vivem num espaço de 100 hectares, já que os empresários brigam na Justiça pela posse. Estes índios foram despejados em 2005 da reserva Ñande Ru Marangatu por uma liminar do então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, num mandado de segurança movido pelo pecuarista Pio Silva e mais 15 pessoas que detinham título de propriedade terra na área demarcada. Os 100 hectares só foram cedidos depois que os índios passaram seis meses acampados à beira da MS-304, que corta a cidade. Durante este período, o acampamento foi atacado e um índio foi morto.


Um levantamento realizado pela Procuradoria Regional da República da 3ª Região (PRR-3) indica que 87 processos envolvendo disputa de terras indígenas tramitam no Tribunal Regional Federal (TRF-3), em fase de recurso. As ações são movidas por fazendeiros que tentam impedir a demarcação de territórios indígenas pela Funai. Nos processos, eles pedem que a Justiça reconheça a posse de terra em favor de fazendeiros ou declare que suas fazendas não foram tradicionalmente ocupadas pelos índios.


Sem solução à vista, a situação tende a se agravar, alerta o bispo Erwin Kräutler.


A aldeia Bororó está cercada por plantações de cana e soja. Segundo o índio Peralta, que integra o Conselho Nacional de Política Indigenista, os índios querem que seja apressada a identificação de áreas ocupadas por seus antepassados, para que parte delas retornem às etnias.


- Nossa situação é pior do que a dos sem-terra. A gente não tem a luta no modelo do branco, fica esperando, esperando... Queria que a Justiça tivesse um olhar para a gente, respeitasse nosso direito. Aqui não se respeita, dizem que a gente só dá prejuízo - lamenta Peralta, referindo-se às ocupações dos sem-terra.


Aos 48 anos, pai de três filhos, avô de três netos, Peralta diz que seu filho mais velho já vive a nova realidade e trabalha numa usina da região. Engajado no movimento indígena, ele hoje cursa Pedagogia, mas toca roça numa aldeia das aldeias sul-matogrossenses, no Tiju.


Peralta reconhece que, fora a desesperança, a violência assola as comunidades indígenas do estado e pede parceria da Polícia Federal para aumentar a segurança nas aldeias, afastando os traficantes de drogas.


- O cacique não dá mais conta. Hoje o índio cumpre pena, no modelo do branco. Mas quem vai cumprir pena na sociedade do branco sai pior. Preferia uma punição que recuperasse, na família. Antes, quando o índio errava, tinha de rezar, trabalhar na roça, cantar à noite, carpir e seguir o conselho dos mais velhos. Agora, não resolve mais, a cultura foi enfraquecida - admite.


Fonte: http://oglobo.globo.com/cidades/mat/2009/04/27/mato-grosso-do-sul-registra-suicidio-de-um-indio-cada-dez-dias-755455218.asp

terça-feira, 14 de abril de 2009

Doenças Imaginárias



Somos defrontados com freqüência por aflitivo problema cuja solução reside em nós.

A ele debitamos longas fileiras de irmãos nossos que não apenas infelicitam o lar onde são chamados à sustentação do equilíbrio, mas igualmente enxameiam nos consultórios médicos e nas casas de saúde, tomando o lugar de necessitados autênticos.

Referimo-nos às criaturas menos vigilantes, sempre inclinada ao exagero de quaisquer sintomas ou impressões e que se tornam doentes imaginários, vítimas que se fazem de si mesmas nos domínios das moléstias-fantasmas.

Experimentam, às vezes, leve intoxicação, superável sem maiores esforços, e, dramatizando em demasia pequeninos desajustes orgânicos, encharcam-se de drogas, respeitáveis quando necessárias, mas que funcionam a maneira de cargas elétricas inoportunas, sempre que impropriamente aplicadas.

Atingido esse ponto, semelhantes devotos da fantasia e do medo destrutivo caem fisicamente em processos de desgastes,cujas as conseqüência ninguém pode prever, ou entram, modo imperceptíveis para eles, nas calamidades sutis da obsessão oculta, pelas quais desencarnados menos felizes lhes dilapidam as forças.

Depois disso, instalada a alteração do corpo ou da mente, é natural que o desequilíbrio real apareça e se consolide, trazendo até mesmo a desencarnação precoce, em agravo de responsabilidade daqueles que se entibiam diante da vida, sem coragem para trabalhar, sofrer e lutar.Precatemo-nos contra esse perigo absolutamente dispensável.

Se uma dor aparece, auscultemos nossa conduta, verificando se não demos causa à benéfica advertência da Natureza.
Se surge a depressão nervosa, examinemos o teor das emoções a que estejamos entregando as energias do pensamento, de modo a saber se o cansaço não se resume a um aviso salutar da própria alma, para que venhamos a clarear a existência e o rumo.

Antes de lançar qualquer pedido angustiado de socorro, aprendamos a socorrer-nos através da auto-análise, criteriosa e consciente.
Ainda que não seja por nós, façamos isso pelos outros, aqueles outros que nos amam e que perdem, inconseqüentemente, recurso e tempo valiosos, sofrendo em vão com a leviandade e a fraqueza de que fornecemos testemunhos.

Nós que nos esmeramos no trabalho desobssessivo, em Doutrina Espírita, consagremos a possível atenção a esse assunto, combatendo as doenças-fantasmas que são capazes de transformar-nos em focos de padecimentos injustificáveis a que nos conduzimos por fatores lamentáveis de auto-obsessão.

ANDRÉ LUIZ - ("Doenças Fantasmas") - (Do livro "Estude e Viva", F. C. Xavier e Waldo Vieira)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Visão Espírita da Páscoa



Marcelo Henrique Pereira (*)
http://aeradoespirito.sites.uol.com.br/A_ERA_DO_ESPIRITO_-_Portal/ARTIGOS/ArtigosGRs3/VISAO_ESPIR_DA_PASCOA_MH.html

Eis-nos, uma vez mais, às vésperas de mais uma Páscoa. Nosso pensamento e nossa emoção, ambos cristãos, manifestam nossa sensibilidade psíquica. Deixando de lado o apelo comercial da data, e o caráter de festividade familiar, a exemplo do Natal, nossa atenção e consciência espíritas requerem uma explicação plausível do significado da data e de sua representação perante o contexto filosófico-científico-moral da Doutrina Espírita.

Deve-se comemorar a Páscoa? Que tipo de celebração, evento ou homenagem é permitida nas instituições espíritas
? Como o Espiritismo visualiza o acontecimento da paixão, crucificação, morte e ressurreição de Jesus?

Em linhas gerais, as instituições espíritas não celebram a Páscoa, nem programam situações específicas para “marcar” a data, como fazem as demais religiões ou filosofias “cristãs”. Todavia, o sentimento de religiosidade que é particular de cada ser-Espírito, é, pela Doutrina Espírita, respeitado, de modo que qualquer manifestação pessoal ou, mesmo, coletiva, acerca da Páscoa não é proibida, nem desaconselhada.

O certo é que a figura de Jesus assume posição privilegiada no contexto espírita, dizendo-se, inclusive, que a moral de Jesus serve de base para a moral do Espiritismo. Assim, como as pessoas, via de regra, são lembradas, em nossa cultura, pelo que fizeram e reverenciadas nas datas principais de sua existência corpórea (nascimento e morte), é absolutamente comum e verdadeiro lembrarmo-nos das pessoas que nos são caras ou importantes nestas datas. Não há, francamente, nenhum mal nisso.

Mas, como o Espiritismo não tem dogmas, sacramentos, rituais ou liturgias, a forma de encarar a Páscoa (ou a Natividade) de Jesus, assume uma conotação bastante peculiar. Antes de mencionarmos a significação espírita da Páscoa, faz-se necessário buscar, no tempo, na História da Humanidade, as referências ao acontecimento.

A Páscoa, primeiramente, não é, de maneira inicial, relacionada ao martírio e sacrifício de Jesus. Veja-se, por exemplo, no Evangelho de Lucas (cap. 22, versículos 15 e 16), a menção, do próprio Cristo, ao evento: “Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes da minha paixão. Porque vos declaro que não tornarei a comer, até que ela se cumpra no Reino de Deus.” Evidente, aí, a referência de que a Páscoa já era uma “comemoração”, na época de Jesus, uma festa cultural e, portanto, o que fez a Igreja foi “aproveitar-se” do sentido da festa, para adaptá-la, dando-lhe um novo significado, associando-o à “imolação” de Jesus, no pós-julgamento, na execução da sentença de Pilatos.

Historicamente, a Páscoa é a junção de duas festividades muito antigas, comuns entre os povos primitivos, e alimentada pelos judeus, à época de Jesus. Fala-se do “pesah”, uma dança cultural, representando a vida dos povos nômades, numa fase em que a vinculação à terra (com a noção de propriedade) ainda não era flagrante. Também estava associada à “festa dos ázimos”, uma homenagem que os agricultores sedentários faziam às divindades, em razão do início da época da colheita do trigo, agradecendo aos Céus, pela fartura da produção agrícola, da qual saciavam a fome de suas famílias, e propiciavam as trocas nos mercados da época. Ambas eram comemoradas no mês de abril (nisan) e, a partir do evento bíblico denominado “êxodo” (fuga do povo hebreu do Egito), em torno de 1441 a.C., passaram a ser reverenciadas juntas. É esta a Páscoa que o Cristo desejou comemorar junto dos seus mais caros, por ocasião da última ceia.

Logo após a celebração, foram todos para o Getsêmani, onde os discípulos invigilantes adormeceram, tendo sido o palco do beijo da traição e da prisão do Nazareno.

Mas há outros elementos “evangélicos” que marcam a Páscoa. Isto porque as vinculações religiosas apontam para a quinta e a sexta-feira santas, o sábado de aleluia e o domingo de páscoa. Os primeiros relacionam-se ao “martírio”, ao sofrimento de Jesus – tão bem retratado neste último filme hollyodiano (A Paixão de Cristo, segundo Mel Gibson) –, e os últimos, à ressurreição e a ascensão de Jesus.

No que concerne à ressurreição, podemos dizer que a interpretação tradicional aponta para a possibilidade da mantença da estrutura corporal do Cristo, no post-mortem, situação totalmente rechaçada pela ciência, em virtude do apodrecimento e deterioração do envoltório físico. As Igrejas cristãs insistem na hipótese do Cristo ter “subido aos Céus” em corpo e alma, e fará o mesmo em relação a todos os “eleitos” no chamado “juízo final”. Isto é, pessoas que morreram, pelos séculos afora, cujos corpos já foram decompostos e reaproveitados pela terra, ressurgirão, perfeitos, reconstituindo as estruturas orgânicas, do dia do julgamento, onde o Cristo, separá justos e ímpios.

A lógica e o bom-senso espíritas abominam tal teoria, pela impossibilidade física e pela injustiça moral. Afinal, com a lei dos renascimentos, estabelece-se um critério mais justo para aferir a “competência” ou a “qualificação” de todos os Espíritos. Com “tantas oportunidades quanto sejam necessárias”, no “nascer de novo”, é possível a todos progredirem.

Mas, como explicar, então as “aparições” de Jesus, nos quarenta dias póstumos, mencionadas pelos religiosos na alusão à Páscoa?

A fenomenologia espírita (mediúnica) aponta para as manifestações psíquicas descritas como mediunidades. Em algumas ocasiões, como a conversa com Maria de Magdala, que havia ido até o sepulcro para depositar algumas flores e orar, perguntando a Jesus – como se fosse o jardineiro – após ver a lápide removida, “para onde levaram o corpo do Raboni”, podemos estar diante da “materialização”, isto é, a utilização de fluido ectoplásmico – de seres encarnados – para possibilitar que o Espírito seja visto (por todos). Igual circunstância se dá, também, no colóquio de Tomé com os demais discípulos, que já haviam “visto” Jesus, de que ele só acreditaria, se “colocasse as mãos nas chagas do Cristo”. E isto, em verdade, pelos relatos bíblicos, acontece. Noutras situações, estamos diante de uma outra manifestação psíquica conhecida, a mediunidade de vidência, quando, pelo uso de faculdades mediúnicas, alguém pode ver os Espíritos.

A Páscoa, em verdade, pela interpretação das religiões e seitas tradicionais, acha-se envolta num preocupante e negativo contexto de culpa. Afinal, acredita-se que Jesus teria padecido em razão dos “nossos” pecados, numa alusão descabida de que todo o sofrimento de Jesus teria sido realizado para “nos salvar”, dos nossos próprios erros, ou dos erros cometidos por nossos ancestrais, em especial, os “bíblicos” Adão e Eva, no Paraíso. A presença do “cordeiro imolado”, que cumpre as profecias do Antigo Testamento, quanto à perseguição e violência contra o “filho de Deus”, está flagrantemente aposta em todas as igrejas, nos crucifixos e nos quadros que relatam – em cores vivas – as fases da via sacra.

Esta tradição judaico-cristã da “culpa” é a grande diferença entre a Páscoa tradicional e a Páscoa espírita, se é que esta última existe. Em verdade, nós espíritas devemos reconhecer a data da Páscoa como a grande – e última lição – de Jesus, que vence as iniqüidades, que retorna triunfante, que prossegue sua cátedra pedagógica, para asseverar que “permaneceria eternamente conosco”, na direção bussolar de nossos passos, doravante.

Nestes dias de festas materiais e/ou lembranças do sofrimento do Rabi, possamos nós encarar a Páscoa como o momento de transformação, a vera evocação de liberdade, pois, uma vez despojado do envoltório corporal, pôde Jesus retornar ao Plano Espiritual para, de lá, continuar “coordenando” o processo depurativo de nosso orbe. Longe da remissão da celebração de uma festa pastoral ou agrícola, ou da libertação de um povo oprimido, ou da ressurreição de Jesus, possa ela ser encarada por nós, espíritas, como a vitória real da vida sobre a morte, pela certeza da imortalidade e da reencarnação, porque a vida, em essência, só pode ser conceituada como o amor, calcado nos grandes exemplos da própria existência de Jesus, de amor ao próximo e de valorização da própria vida.

Nesta Páscoa, assim, quando estiveres junto aos teus mais caros, lembra-te de reverenciar os belos exemplos de Jesus, que o imortalizam e que nos guiam para, um dia, também estarmos na condição experimentada por ele, qual seja a de “sermos deuses”, “fazendo brilhar a nossa luz”.

Comemore, então, meu amigo, uma “outra” Páscoa. A sua Páscoa, a da sua transformação, rumo a uma vida plena.

(*) Marcelo Henrique Pereira, Mestre em Ciência Jurídica, Presidente da Associação de Divulgadores do Espiritismo de Santa Catarina e Delegado da Confederação Espírita Pan-Americana para a Grande Florianópolis (SC)
http://www.abrade.com.br/pascoa.html

quarta-feira, 25 de março de 2009

Aumento de suicídios no Japão preocupa governo


Ewerthon Tobace
São Paulo



O aumento no número de suicídios neste início de ano e o profundamento da crise econômica estão causando grande preocupação no Japão. Em janeiro houve um aumento de 15% no número de casos em comparação com o mesmo mês no ano anterior. Segundo fontes do governo, a preocupação neste ano é maior por causa da crise econômica que afetou seriamente o país no final de 2008.

Pessoas que perderam o emprego nos últimos meses do ano passado começam a passar por dificuldades agora, após o fim do seguro-desemprego.

O benefício é pago por no mínimo três meses a assalariados despedidos e pode ser recebido, dependendo da faixa etária e de outros fatores, por até um ano. Muitos dos que perderam o emprego em novembro de 2008, por exemplo, devem ter recebido a última parcela do seguro agora em março.

O final de março é considerado pelas autoridades e especialistas um período crítico. Chamado na literatura psiquiátrica local de "problema de março", o pico no número de mortes coincide com os exames vestibulares e início da temporada de contratações. Muitos dos que ficam de fora do sistema, sem outras perspectivas, optam por acabar com a própria vida.

Somente em janeiro deste ano, segundo dados divulgados pela Agência Nacional de Polícia, foram registrados 2.645 suicídios. Isto representa um aumento de 15% em relação ao mesmo mês do ano passado, quando foram notificados 2.305 casos.

Em 2008, o número total ficou próximo dos 32 mil, ultrapassando a marca dos 30 mil pelo 11º ano consecutivo. No ano anterior, foram registrados 33.093.

A média nacional é de um suicídio a cada 20 minutos. Nas piores épocas, o tempo entre uma morte e outra cai para até 15 minutos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, entre os países ricos o Japão está em segundo no ranking de suicídios, atrás da Rússia. Lá, a média de suicídios é de 40 a cada 100 mil pessoas. No Japão a média é de 24 e, no Brasil, cinco.

A província de Yamanashi é a campeã entre os lugares onde ocorrem suicídios no Japão. Em 2008, a média foi de 40,8 a cada 100 mil pessoas. A explicação é a existência da floresta Aokigahara, também conhecida como "floresta dos suicidas", considerada o segundo lugar mais famoso do mundo para se matar - atrás somente da Ponte Golden Gate, em São Francisco, nos Estados Unidos.

Pessoas de várias partes do Japão adentram todos os meses a densa floresta e se matam por lá. Parte da popularidade é por causa de um romance chamado Kuroi Jukai (Mar Negro de Árvores, numa tradução livre). A história termina com o casal de namorados se suicidando naquela floresta.

Desde 1950, o local registra todos os anos ao menos 30 suicídios. O governo da província tem investido nos últimos anos em projetos para diminuir o número de mortes e perder o título nada agradável.

"O fato de as pessoas estarem perdendo o emprego nos preocupa muito", admitiu à BBC Brasil Yumi Kimura, 34 anos, chefe do Departamento de Estudos Vitalícios do governo de Yamanashi. "Por isso, começamos uma campanha de prevenção na região com distribuição de pôsteres e cartazes com informações sobre onde procurar ajuda", contou.

O material pode ser encontrado nos táxis, pontos turísticos e hotéis da região. "Também criamos uma rede de comunicação com os moradores locais, que voluntariamente tomam conta dos arredores de suas moradias", disse Yumi. Caso o morador perceba alguma atitude estranha de visitantes, ele comunica a central.

O governo central também trabalha para evitar suicídios no país. O objetivo é reduzir em até 20% o número de suicídios até 2016. Entre as medidas estão o treinamento de conselheiros e o apoio a organizações sem fins lucrativos. Também existe um projeto de realização de palestras de alerta em escolas e empresas.

Porém, o problema é de difícil solução, pois o suicídio é visto como uma opção honrosa pela sociedade japonesa em geral, principalmente nos casos de homens que não conseguem mais garantir o sustento da família e daqueles acusados de corrupção.

Historicamente, a tradição samurai de se matar em nome da honra e o caso dos camicases, que faziam operações suicidas na Segunda Guerra Mundial, dão respaldo ao suicídio. Além disso, as principais religiões do país, o budismo e o xintoísmo, são neutras em relação ao assunto.
Além do governo, algumas empresas têm criado projetos para tentar conter os suicidas. A Companhia Ferroviária Keihin Electric Express, por exemplo, instalou no ano passado, em algumas plataformas de suas estações de trem, uma lâmpada de cor azul. A cor teria o poder de "acalmar" as pessoas. Segundo a empresa, desde que as lâmpadas foram trocadas, há 11 meses, não ocorreram mais suicídios naquelas plataformas. Outras companhias ferroviárias estão seguindo o exemplo e também começaram a instalar as lâmpadas azuis para realizar um período de experiência.

BBC Brasil - BBC BRASIL.com - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC BRASIL.com.

Fonte: http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI3657515-EI8143,00-Aumento+de+suicidios+no+Japao+preocupa+governo.html

segunda-feira, 23 de março de 2009

Morte voluntária


Morte voluntária


Analisar as causas do suicídio e achar formas de prevenção é um enigma, mas possível, segundo especialistas

Por Lílian Cardoso


Depressão é um dos fatores que pode desencadear o desejo suicida, tal como Transtorno Afetivo Bipolar


Mahnaz tinha 6 anos quando sua mãe jogou gasolina nela, nos dois irmãos e em si própria. Queria todos mortos. Estava cansada das traições do marido, mais ainda de apanhar quando reclamava. Seria uma maneira de puni-lo e de mostrar que, assim como ele, era capaz de atitudes extremas. Até hoje, Mahnaz não se recorda do que aconteceu naquele dia, só que em momento algum teve medo, apenas pena da mãe, que chorava muito e acabou indo embora para a casa de seus pais, deixando-os sozinhos e encharcados de combustível".


O apelo nestas primeiras linhas não é literário. A história - uma mostra da realidade que atormenta muitos lares - é verídica. A Organização Mundial da Saúde calcula que, diariamente, cerca de 60 mil pessoas tentam se matar. Aproximadamente 3 mil conseguem. O número de suicídios cresceu em 60% nos últimos 45 anos. Mas mesmo considerado como um grave problema de saúde pública mundial, o tema ainda é tratado como tabu.


O mistério que envolve o ato faz filósofos, psiquiatras e psicólogos se debruçarem na angustiante busca de porquês. É um caminho árduo de respostas e considerações. Analisar de fato o termo "suicídio" e não encará-lo de forma preconceituosa ou romanceada - como foi feito em Os sofrimentos do jovem Wherter, de Johann Wolfgang von Goethe - é tarefa dificílima.


A jornalista pernambucana Paula Fontenelle é um dos raros exemplos, no Brasil, de quem encarou essa missão, enfrentou o tema e não excluiu qualquer detalhe da própria dor. Foram três anos de pesquisa até concluir Suicídio - O futuro interrompido, obra que foi lançada em outubro de 2008 pela editora Geração Editorial, de São Paulo.


Assim como Mahnaz - que por sorte escapou da morte - Paula, que narra esta história nas primeiras páginas do livro, sentiu na própria pele a herança do suicídio. Em 2005 o pai se matou com um tiro na cabeça. Chocada com a tragédia familiar e inconformada, a jornalista iniciou uma pesquisa. "Num momento deste, a gente quer respostas, quer entender o que leva alguém a tirar a própria vida. Fica um buraco e uma busca insaciável por informação", descreve.


Paula recorreu às obras de Durkheim, Freud, Aristóteles, além da leitura de várias e recentes publicações estrangeiras. A jornalista também resgatou a história do pai em um dos capítulos da sua obra - certamente o mais difícil, pois analisa o problema a partir do próprio drama. "A idéia inicial era ajudar as pessoas que vivem o que passei, mas depois que estudei bastante vidao assunto pude enxergar outra possibilidade: a de evitar o suicídio. Como? Identificando os sinais e se aproximando, de forma direta, da pessoa em risco. O que nos falta é informação e é essa lacuna que quero preencher", revela Paula que entrevistou inclusive o psicólogo norte-americano Edwin Schneidman, conhecido como o pai da suicidologia moderna e responsável pela abertura, na década de 1960, do primeiro centro de prevenção ao suicídio nos Estados Unidos.

Vida em Morte
Cerca de 1 milhão de pessoas morrem por ano em decorrência do suicídio. Ou seja, perde- se mais vida com suicídio anualmente do que em todas as guerras e homicídios no mundo. Ainda segundo a OMS, se a prevenção não passar a ser encarada seriamente, esta fatalidade pode chegar a 1,5 milhão em 2020 e de 10 a 20 vezes mais em termos de tentativas.


A previsão significa uma morte a cada 20 segundos e uma tentativa a cada um ou dois segundos. Este índice representa um crescimento de 74% em relação às 877 mil mortes voluntárias registradas em 2002. Nos relatórios mundiais, o suicídio está entre as três maiores causas de morte na faixa etária de 15-44 anos. A cada ano, aproximadamente 100 mil adolescentes se suicidam no mundo.


As taxas mais altas estão no Leste Europeu, particularmente os que faziam parte da União Soviética. As mais baixas estão na América Latina, nos países islâmicos e em alguns países asiáticos. Mas os números servem apenas como referência, porque não se sabe até que ponto a subnotificação - inclusive no Brasil - impacta os índices mundiais. Em relação aos países africanos não há um registro específico sobre a incidência de suicídio, são poucas as informações e pesquisas divulgadas nesse continente.


Fatores de Risco
A Organização Mundial da Saúde estima que 60 mil pessoas tentam se matar, e que 3 mil têm êxito


Quando sabemos que alguém se suicidou, a primeira pergunta que vem à nossa mente é 'por quê'? E a resposta, normalmente, é vazia. Vazia no sentido em que não diminui nossa indignação, nossa dificuldade em compreender que alguém desistiu da vida. Na verdade, muito já foi pesquisado sobre o assunto e a principal conclusão desses estudos é que em mais de 90% dos casos de suicídio, existe um transtorno mental associado.


Em 2002, a Organização Mundial da Saúde realizou um levantamento em diferentes regiões do mundo. Em quase 16 mil suicídios, em apenas 3% não foi possível fazer um diagnóstico psiquiátrico. No topo da lista vem a depressão. Normalmente a doença ou não foi diagnosticada ou o tratamento não foi seguido (ou prescrito) adequadamente. Mas é preciso deixar claro que a doença não é uma sentença de morte, ao contrário, apenas uma média de 15% daqueles que apresentam depressão grave se suicidam.


Embora a depressão esteja no topo da lista, algumas doenças psíquicas também podem aumentar o risco de suicídio. É o caso do Transtorno Afetivo Bipolar, caracterizado por alternâncias entre fases de mania (hiperatividade) e depressão. O TAB afeta cerca de 1,5% das pessoas. Entre 20% a 50% dos doentes tentam suicídio. Portanto, se essas doenças forem diagnosticadas e tratadas com seriedade, o suicídio pode ser prevenido.

" Perde-se mais vida com suicídio anualmente do que em todas as guerras e homicídios no mundo "


Um tema silencioso
No Brasil, onde prevenção de suicídios ainda não é tratada como prioridade, o tema é pouco discutido. O motivo talvez seja a prioridade que é dada à violência urbana. Enquanto de 3 a 4 mil pessoas morrem anualmente por suicídio, o País registra cerca de 45 mil assassinatos no mesmo período.


Mas isto é apenas parte do problema. O medo e o desconhecimento também estimulam o silêncio, seja das autoridades responsáveis pelos registros de óbito, seja a própria sociedade que ainda se cala diante da morte voluntária. Em alguns casos a própria família pede que a real causa mortis seja camuflada por eufemismos como "acidente com arma de fogo", entre outros.
No que diz respeito aos números, o Brasil segue os padrões mundiais, três mortes de homens para cada mulher e elevação nos índices de morte voluntária nos jovens entre 15 e 24 anos. Nessa faixa etária, as taxas entre 1980 e 2000 foram multiplicadas por dez, passando de 0,4 para 4.


Na opinião de Paula Fontenelle, a sociedade ainda não está pronta para este debate, e isso inclui o poder público, mas é preciso que alguém dê o pontapé inicial. "No Brasil, a violência urbana é o grande vilão das mortes, mesmo assim pouco é feito para solucionar o problema. Por trás desta atitude está o medo de encarar o suicídio como um fato, assim como vemos hoje tratarem a depressão que antes era igualmente tabu".


Um dos capítulos do livro trata da postura da mídia em relação ao suicídio, uma postura também distanciada e superficial. O motivo é o receio de que a publicação de reportagens estimule o que os especialistas chamam de 'contágio'. "É verdade que isso pode ocorrer, mas o silêncio não ajuda. O que nós jornalistas precisamos é abordar a morte voluntária de forma responsável e não sensacionalista. Temos uma imensa responsabilidade em tratar o assunto adequadamente para ajudar na prevenção", defende.


A família e os amigos têm de estar atentos aos sinais de comportamento suicida. Muitas vezes o indivíduo dá pistas de que irá se matar.


Mitos sobre suicídio
Durante três anos de pesquisa, a autora identificou alguns mitos que norteiam o tema e, nas entrevistas, procurou esclarecimento para cada um deles. Em capítulo específico, Paula listou as dez principais inverdades e analisou uma a uma baseada em considerações de especialistas. "Quem vive ameaçando se suicidar nunca o faz". Segunda a autora, este é o mito mais difundido.
De fato, as pesquisas mundiais indicam que mais de 90% daqueles que tiram a própria vida dão sinais de que irão fazê-lo, entre eles, a verbalização de que não querem mais viver. O comportamento autodestrutivo, as palavras de desesperança sempre se apresentam como pedidos de ajuda. "Mas é preciso que exista alguém do outro lado que identifique os sinais, enxergue o sofrimento do outro e parta para a ação", explica.


A crença de que quem diz não faz é ainda mais recorrente quando vem de um jovem, porque é visto como algo característico de adolescentes, seja na forma de exagero nas emoções ou ainda uma maneira para chamar a atenção. A simples verbalização de querer morrer, normalmente já é um sinal de que há algo a ser investigado.


Outro mito em destaque é acreditar que ao perguntar a alguém se ele ou ela está pensando em se matar você pode estimular essa pessoa a fazê-lo. Ao contrário. O que dizem os especialistas é que se você estiver desconfiando da intenção de alguém, deve abordá-lo da forma mais direta possível perguntando se ele já pensou nisso e se já chegou a planejar o ato. É desta forma que você irá saber a gravidade da situação.


No caminho da prevenção
A grande questão por trás do suicídio é o que fazer - ou mesmo, se há o que fazer - quando uma pessoa chega ao ponto de desistir da vida. Há quem procurar? Depressão, angústia, medo, desamparo, apatia. Estes são os sentimentos que corroem um ser humano até que tudo deixa de fazer sentido. É nesse momento que o suicídio surge como única saída. É o que os especialistas chamam de "afunilamento" das percepções, muito comum em níveis avançados de depressão.
Como ajudar nesses casos? Se aproximando da pessoa, conversando abertamente e a encaminhando a um tratamento adequado. De início, o indicado é tentar entender onde dói, o que o incomoda, o porquê do indivíduo não enxergar outras saídas. Em seguida, procure ampliar sua percepção apontando para opções que ele não consegue ver.

No caso do suicídio, o termo "prevenção" adquire um significado diferente, porque não se trata de um processo preventivo qualquer. A trajetória inclui a identificação de sinais verbais e não-verbais sutis que já indicam certa gravidade no quadro de quem os expressa e é preciso agir rapidamente. Ou seja, não se trata de evitar uma "doença" antes que ela apareça, e sim de estancar um processo já em evolução.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

EXALTAÇÃO À VIDA


A vida quer que se expresse, é desafio que merece reflexão.

Inata, em todas as coisas, dorme no mineral por milhões de anos até sonhar no vegetal, quando tem início o despertar das suas potencialidades extraordinárias e de difícil apreensão mesmo pelas inteligências mais primorosas.

Atravessando o silêncio dos tempos, adquire maior sensibilidade no animal, por meio do instinto que desvela, desenvolvendo o sistema nervoso que se aprimora, e no ser humano alcança a plenitude espiritual.

Assim considerando, é indispensável investir todos os valores intelecto-morais em favor da sua preservação.

Originada no Psiquismo Divino como um campo primordial de energia, conduz todos os elementos indispensáveis ao seu engrandecimento durante a trajetória que lhe cumpre desenvolver até lograr a fatalidade que lhe está destinada.

Não raro confundida com automatismo ou pulsações caóticas do acaso, é a mais pujante expressão da realidade que dá origem a todas as coisas.

Para onde se direcione o pensamento e se proceda a observação, ei-la que se apresenta enriquecedora, convidando a reflexões acuradas.

Por mais o ser humano se rebele e deseje fugir do fenômeno da vida, mais a defronta, porquanto jamais se extingue.

Impulso que parte da vibração inicial e adquire complexidade, faculta o entendimento de si mesma em penosas circunstâncias, quando atrelada à revolta e à ignorância, ou se dá com ternura e júbilo através da correnteza do amor e seus estímulos.

Desse modo, ama a tudo e a todos, deixando-te arrebatar pela excelência dos acontecimentos, que te constituem razões de aprendizado para aquisição da beleza a que te destinas.

Contribui em favor do seu desabrochar mediante a razão bem orientada e a emoção equilibrada.
És vida e és parte essencial da vida em tudo manifestada.

Oferece a tua contribuição de harmonia, nunca a depredando, nem gerando embaraços que lhe possam perturbar a marcha.

À medida que cresças interiormente, mais entenderás as leis de equilíbrio que a regem e os objetivos elevados que encerra.

Ante o ritmo pulsante do Universo,adapta o passo das tuas realizações e arregimenta forças para seguir no rumo do infinito.

Quanto mais conquistas espaços-luz, mais se te apresentarão outras dimensões a penetrar.
Nunca cessando, a vida te conduz ao Cosmo, em um mergulho de consciência lúcida no oceano da sabedoria.

Respeita a vida em qualquer aspecto que se apresente.

Limpa uma vala, planta uma arvora, semeia um grão, viabiliza uma ocorrência enobrecedora, oferta um copo com água fria, brinda um sorriso, sê útil de qualquer maneira…

A vida transcorrerá para ti conforme a desenvolvas.

Diante de qualquer dificuldade, insiste com amor e aguarda os resultados, sem aflição.

Não blasfemes, nem te rebeles, quando algo não te corresponder à expectativa.

És vida em ti mesmo, e o exterior sempre refletirá o que cultives internamente.

Jamais te evadirás da tua realidade.

Assim, torna enriquecedora e produtiva a tua existência, sendo um hino de louvor e de exaltação à vida.
Mensagem de Joanna de Ângelis, através da psicografia de Divaldo Pereira Franco.